Publisher Theme
Art is not a luxury, but a necessity.

Estreia na coluna “Africanidade”, Henrique Esteves com o texto: Salve Salve povo preto do Rio de Janeiro e do Brasil

41


No último dia 20 de novembro, comemoramos o dia da consciência Negra no Rio de
Janeiro e no Brasil, dia de comemorar o nosso herói Zumbi dos Palmares, nossa heroína
Dandara e todos os outros heróis e heroínas que vieram após Zumbi, mas nesse país
estruturalmente racista, apagaram-no da história do Brasil. Me lembro uma vez
conversando com o mestre Januário Garcia, no qual inspirei grande parte da minha
fotografia, e em como retratar e fotografar o povo preto, sempre com a grandeza e
dignidade que merecem. Janu dizia com muita sabedoria, que lhe era peculiar: “Não existe
uma história do Brasil sem o negro, mas, existe uma história do negro sem o Brasil”. Que
profundo esse pensamento!

Hoje gostaria de ratificar essa data citando uma pequena parte da herança cultural deixada
por nossos ancestrais e para falar de samba, gastronomia e patrimônio imaterial, fiz uma
entrevista com o grande Marquinhos de Oswaldo Cruz que conversou sobre a Feira das
Yabás, Trem do Samba, Paulo da Portela e outras coisas mais. Sem mais rodeios vamos à
entrevista.


Henrique Esteves: Marquinhos, como surgiu essa ideia de fazer a feira das Yabás?
MOC: A ideia inicial passa pelo trem do samba, que em breve completará 30 anos, depois
eu criei a feijoada da família portelense, que logo se espalhou para as outras escolas de
samba e depois eu fiz a feira justamente para fazer um retrato dos quintais suburbanos
numa praça, pois toda cultura suburbana e preta, acontece dentro desses quintais. A feira é
uma espécie de síntese desses quintais.
Henrique Esteves: Marquinhos e a questão da africanidade nos subúrbios cariocas, como
se desenvolveu?
MOC: É uma africanidade que já é permanente desde que a gente se entende como
pessoa. O subúrbio era um local rural onde a mão de obra escravocrata sobre os negros
descendentes de Africanos era muito forte e toda herança cultural dessa região, o Samba, o
Jongo e o Caxambu se deu justamente dessa ancestralidade. Com a expulsão dos negros
do centro da cidade do Rio de Janeiro se deu a diáspora interna para cá, o subúrbio, que foi
o lugar que mais recebeu negros “libertos” dentro dessa diáspora interna, então o que
acontece? Com isso além dos que já moravam aqui você recebe muito negros quem vem
do centro da cidade, quem migra do Sul de Minas e do Vale do Paraíba também, fora os
baianos que vieram, quase todo mundo veio para cá, então a riqueza de bens culturais e
imateriais dessa região é muito grande, Osvaldo Cruz é uma espécie de Museu do Louvre
de bens culturais imateriais do Rio de Janeiro.


Henrique Esteves: Marquinhos fala um pouquinho do trem do samba, que vai ser agora no
dia 2 de dezembro. Como surgiu essa ideia? Lembrando que o trem do samba é o maior
evento do mundo a céu aberto depois do Carnaval!
MOC: Primeiro contar para o povo de Oswaldo Cruz a história do próprio bairro dentro do
trem, depois foi muito de retratar a viagem que o seu Paulo da Portela fazia para fugir da
repressão policial, então eu tive a ideia de de comemorar o Dia Nacional do Samba dentro
do trem, que graças a Deus foi um sucesso e hoje é o maior festival de música tradicional
do país na periferia de graça sem cobrar um tostão.

Henrique Esteves: Marquinhos faz um convite pra essa galera que ama o samba para
participar do trem no dia 2.

MOC: Galera dia 2 de dezembro trem do Samba uma forma de viajar sobre os trilhos da
memória do Samba no Brasil. Venha para curtir uma viagem cheia de ritmo e história, será
uma forma de você que não está acostumado com o trem, se iniciar no samba.
Começa no palco da central do Brasil às 15 horas onde eu recebo todas as velhas guardas
das escolas de samba depois das velhas guardas têm as viagens de trem, esse ano serão
três trens prontos para o povo curtir muito samba até Osvaldo Cruz. Chegando lá, serão 3
palcos com diversas atrações, entre elas já confirmado: Martinho da Vila, Leci Brandão,
Grupo Fundo de Quintal, Mauro Diniz e mais 20 rodas de samba espalhadas pelo bairro,
tudo isso de forma gratuita.
Será uma grande festa junto com a população para homenagear esse senhor centenário
que merece toda a nossa reverência, o SAMBA!
Agradecer a toda a produção da feira das Yabas e a Marquinhos de Osvaldo Cruz, pelo
bate papo gostoso em forma de entrevista.

Matéria e fotografia: Foto: Henrique Esteves

Comentários estão fechados.