UMA MEMÓRIA DE STORIES E TIMELINES
Te convido a puxar de memória pelo menos três sambas-enredo inteiros do carnaval do ano passado. Não, não: esse único que você acabou de lembrar é deste ano. Cá entre nós, nem se lembrou de três, não é? Agora, se você for vasculhar os arquivos de sua memória carnavalesca de uns dez ou quinze anos deve lembrar uma penca de sambas-enredo do passado, talvez em sequência, de várias escolas de samba. Calma folião, isso não é Alzheimer. É aquela percepção de que tem algo muito estranho na forma como você curte os sambas enredo hoje em dia.
Os sambas-enredo concorrem como qualquer outro produto na indústria do entretenimento, e isso não é nenhuma novidade. As escolas de samba, desde os anos 60, vêm formatando sua música, sua estética e seu desfile num padrão que responda as exigências da ordem do espetáculo. Uma coisa puxa a outra e tudo acaba em business. Lá em 1967 o sucesso de “O mundo encantado de Monteiro Lobato” (da Mangueira) na voz de Eliana Pittman, acendeu um sinal de alerta no mercado fonográfico. Em 1968, a gravadora DISCNEWS lançou o primeiro LP de samba enredo batizada de ‘Festival do Samba’ com sete agremiações contempladas. O Museu da Imagem e Som, meses depois, registra todas as dez escolas do primeiro grupo daquele ano num LP como nome grandiloquente: “As dez grandes escolas cantam para a posteridade seus sambas-enredo de 1968”. E assim começava a tradição do lançamento anual dos discos de escola de samba.
As bolachas pretas e as fitas k7 anuais de samba enredo passaram a embalar as festas de final de ano das famílias cariocas. Presente de amigo oculto, agrado nas repartições públicas, primeira opção nas quinquilharias acumuladas no porta-luvas do carro. No réveillon, os sambas enredo surgiam das portas abertas das casas assim como o aroma dos pasteizinhos e rabanadas. Ao longo do ano, mamães faziam faxina ao som dos tamborins! Além dos discos do Zeca, da Alcione e o clássico Mapa da Mina do Fundo de Quintal, não havia churrasco suburbano sem algum vinil de escola de samba. Devagar devagarzinho, os sambas foram construindo nossas memórias fazendo parte do cotidiano para além dos quatro dias de folia. Aqueles lindos sambas, de todas as escolas, que curtíamos sem pressa do lado A ao lado B. No rádio, a Tropical FM era frequência obrigatória para os amantes do cavaco, do pandeiro e do tamborim. Aos domingos, sempre tinha aquele vizinho que emborcava sua caixa de madeira CCE no parapeito da janela, logo às sete da manhã, numa forma primitiva de compartilhamento de arquivos de áudio.
Quem não se lembra de ‘Lendas e Mistérios do Amazonas’ – ‘…olha só quem vem lá…é o Saci-Pererê’, enredo da Portela de 1970; da autocrítica do Império Serrano já em 1982 com memorável ‘Bum bum Paticumbum Prugurumdum’, ‘…super escolas de samba S/A, super alegorias’, e o arrasa quarteirão futurista ‘Ziriguidum 2001’, de 1985, da Mocidade Independente de Padre Miguel, ‘…avançar no tempo e nas estrelas fazer meu ziriguidum’ – aqui apenas num panorama sonoro muitíssimo superficial. Obras-primas que honravam o legado de Silas de Oliveira, (compositor de ‘Aquarela Brasileira’ de 1964), e as inovações em verso e ritmo propostas por Zé Katimba e Martinho da Vila na virada dos anos 1960 para os 70. Gerações inteiras foram embaladas pelos sambas enredo. E eram composições que nivelavam o público por cima. Sambas bons, sambas ruins…mas com um lirismo que nos pegava pelo coração. Era um batuque coletivo que se dava na vida: nos trens e ônibus lotados e no lazer do final de semana.
A geração milienium, das plataformas digitais, não cria bagagem de memória de mesma forma que a anterior. Não apenas pela rapidez do consumo, mas pela inexistência do registro físico da música. Não tem o disco, não tem o CD e não tem o encarte. Na era dos fones de ouvido as casas são silenciosas. Os pais são ilustres desconhecidos e seu vizinho de porta é um estrangeiro azerbaijano.
Não vou aqui expor sobre a falta de qualidade lírica e rítmica que tomou de assalto o carnaval na última década. E nem sobre o sumiço de uma ala de compositores com compromisso de fé com as agremiações. Assuntos para outros carnavais. Por agora, basta entendermos que a cultura popular é dinâmica e foram as inovações e adaptações ao mercado que permitiram a construção de memória de carnaval nas estantes das casas brasileiras por décadas. Samba é um produto. Hoje, compete mercado com o indierock e com o funk 150 bpm. O desfile do Sambódromo faz parte do calendário do entretenimento nacional assim como Lollapalooza ou Rock n’ Rio. O samba perdeu a exclusividade dos ouvidos da massa já faz tempo. Ele está aí como um dos players brigando por espaço político e artístico na rede de tensões que a sociedade apresenta.
Culpar a juventude pelo cardápio sensorial oferecido pelo contemporâneo? Não sei se é a melhor saída quando uma geração anterior sequer oferece o doce que recebeu de bandeja pelos seus pais. Se você não se lembra dos sambas enredo do ano passado, ou até mesmo desse carnaval que acabou de acabar, pode ser um sintoma de uma falta de afeto que a gente insiste em apontar para os novinhos. Este carnaval pós-moderno, com sambas enredo de rápido aplauso na Avenida, reflete esta nova maneira de lembrar – construída nos stories e nas timelines das redes sociais. Então nossa preciosa memória se esvai assim como emojis voadores no meio da avenida.
Artigo: Umberto Mauro Ramos Silva
Realmente, deixamos de oferecer às novas gerações um prazer, um salutar costume de ouvir… Grande texto!!!
Obrigado.
Muito bem escrito, me trouxe reflexão e saudades da casa da minha vó.
Pois é!
Caraca, meu… Esse cara é realmente bom. Parabéns Umberto Mauro, Você é o cara !!!
Textão!!
Inteligente e de uma sensibilidade incrível!
Consegue nos fazer entrar na caixa da memória,e reviver os MELHORES momentos!
Carnaval é essencia!
Parabéns
Textão!!
Inteligente e de uma sensibilidade incrível!!
Consegue nos fazer entrar na caixa da memória,e reviver os MELHORES momentos !
Carnaval é essência!
Parabéns!
Obrigado.
Conseguiu reunir nostalgia e reflexão com maestria!
Parabéns por análise sutil e cirúrgica ao mesmo tempo!
Parabéns continue assim, confiamos no seu patencial parabéns. Umberto Mauro
Hello from Plan B – Funding Options LLC
*If you’re thinking about starting your own business or if you need funding for most other reasons there’s 3 things that you need to keep in mind.
1. You need to make a well thought out plan, try to cover everything you want to accomplish and think of what could go wrong along the way. You could create a business plan and or executive summary to use as your guideline. As a rule, it’s best NOT to ask family or friends for money its best to use (other people’s money) a funding source that you have no personal relationship with.
2. Expect your plan to fail in part or full in many cases this will happen no matter how well you thought out your plan. Unforeseen obstacles and speed bumps often will come in your path that prevent your plans from going as you had projected.
3.Always without exception have a (Plan B). And that’s where we come in. We are your Plan B!
*Please visit our website for details at : https://www.planbfundingoptions.com
Email us for funding or questions info@planbfundingoptions.com
Call Us : 949-682-9235 (California Office)
**If you do not need funding at this time,perhaps you know someone who does. We Pay Referral Fees!!! See this link to the page on our website that explains what it means for you!. http://www.planbfundingoptions.com/we-pay-referral-fees.html
My name is Pete and I want to share a proven system with you that makes me money while I sleep! This system allows you to TRY the whole thing for F R E E for a whole 30 days! That’s right, you can finally change your future without giving up any sensitive information in advance! I signed up myself just a while ago and I’m already making a nice profit.
In short, this is probably the BEST THING THAT EVER HAPPENED TO YOU IF YOU TAKE ACTION NOW!!!
If you’re interested in knowing more about this system, go to http://globalviralmarketing.com/?ref=qkgWOPkN5RoC1NWh and try it out. Again, it’s FREE!
You can thank me later
/Pete