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Rainha do samba na Austrália, Talita Fontainha estreia na avenida como musa da Renascer de Jacarepaguá e destaque na Portela

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Morando no país da Oceania, onde dá aulas, a coreógrafa e dançarina carioca desfila numa escola de samba pela primeira vez, desconstruindo padrões impostos.

Este Carnaval não vai ser igual àquele que passou – esta é uma certeza da coreógrafa e dançarina Talita Fontainha. Escolhida para ser musa da G.R.E.S. Renascer de Jacarepaguá e destaque no carro abre-alas da G.R.E.S. Portela, a carioca criada em Realengo desfila pela primeira vez. Coroada, em 2019, pelo concurso Australiasian Samba Queen, que acontece anualmente com participantes da Austrália, Nova Zelândia e Ásia, a estreia na Renascer acontece com a fantasia “O terço e flores da cura”, representa toda a fé empregada nestes instrumentos e, por consequência, a cura das enfermidades. Coincidentemente, faz um link com sua trajetória pessoal. Quarta geração de uma família de pastores da Assembleia de Deus, a moça de 32 anos mostrou desde cedo que, embora respeitando sua fé e as tradições de sua família, desconstruiria os padrões.

 “Eu sou o ‘patinho feio’ da família. Geralmente, as pessoas se convertem e abandonam as festas não religiosas, mas eu fiz o caminho contrário. Fui criada indo à igreja, mas rompi com tudo quando senti o chamado da dança. Meu bisavô, avô e pai foram pastores da Assembleia de Deus. Minha mãe não usava calça, não tinha orelha furada…”, relembra Talita, que conheceu o marido, o biólogo carioca Wys Costa, na internet.

O contato com a dança aconteceu aos 12 anos nas aulas de jazz e balé contemporâneo, quando ganhou uma bolsa de estudos no Centro Artístico Daniela Marcondes, em Realengo, onde morou até a adolescência. “Fiz o teste para ser bolsista escondida da minha mãe. Quando passei, ela descobriu e não gostou, mas considerou que eu poderia exercer a arte na igreja. Segui meus estudos e, em pouco tempo, participei do meu primeiro grupo, o Grupo de Dança Paulo Gissoni, na Universidade Castelo Branco. Não parei mais”, pontua.

Ao se mudar pra Tijuca, conseguiu uma nova bolsa – dessa vez, no Centro de Movimento Deborah Colker. “Lá realizei meus primeiros trabalhos profissionais: em vinhetas de dança massiva e integrando um grupo fictício de dança que existia na novela ‘Páginas da Vida’, ambos na TV Globo”, ressalta. Foi nessa mesma época, aos 17 anos, que participou de uma audição para um show latino em Israel. “Não avisei a ninguém pra evitar torcida contra (risos). Passei, e avisei à minha família, apenas duas semanas antes de embarcar, porque precisava de autorização para tirar o passaporte”, diverte-se.

No último dos dois anos que ficou no Oriente Médio, foi convidada a coreografar os Jogos Mundiais Militares 2011, no Rio de Janeiro. O passo seguinte foi o trabalho como coreógrafa no “Dança da Galera”, extinto quadro do Domingão do Faustão, onde atuou por dois anos. “Nessa época, aceitei o convite para coreografar a cerimônia de encerramento das Olimpíadas 2012 e me mudei pra Londres. O trabalho repercutiu e me rendeu o convite para coreografar as cerimônias de abertura e encerramento da Copa das Confederações, da FIFA, aqui no Brasil”, enumera.

Foi na fase em que trabalhou como professora de dança responsável pelas coreografias, fase que surgiu o contato mais próximo com o Carnaval. “Ainda existe esse estigma que, por eu ser negra e carioca, teria que saber sambar, por isso o convite. Eu ainda não sambava tão bem, meus Carnavais eram nos retiros da igreja, eu não frequentava o samba. Mas, me joguei e fui dar aula do ritmo no navio. O que eu ensinava lá, era algo mais intuitivo”, reflete Talita, que hoje mora em Adelaide, na Austrália. “Achava que minha fase de dançar havia passado. Tentei trabalhar num escritório, mas não aguentei e voltei pra dança”, suspira a dançarina.

Sem perfil para desistir, fez aulas on line com uma professora brasileira para aperfeiçoar seu gingado e, mais segura, aplicá-lo na função de professora de uma das melhores escolas de dança do local. Mesmo sem estar tão à vontade com o ritmo, Talita se desafiou mais uma vez, participando – e vencendo – o concurso Australiasian Samba Queen. Foi aí que a chave virou. “O samba é nossa cultura. Eu sou afro-brasileira e o percebo como uma herança direta que não envolve, necessariamente, as minhas crenças”, pontua.

Atualmente, dando aulas na Austrália de hip hop, jazz, samba e funk, é apenas com o trabalho que ela mantém a boa forma. E a ansiedade para o desfile, como está? “No ensaio de rua meu coração já batia mais forte, me senti nas nuvens! Não tenho palavras para este momento, só espero a hora de desfilar. Estou super feliz, virei como destaque de chão, sambando pra valer. Quem quiser me acompanhar, venha comigo”, encerra. 

Texto: Bruno Morais.

Fotos: Divulgação.

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