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13 de abril O samba é pras moças

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13 de abril O samba é pras moças

 

O território do samba sempre foi feminino. Foi nos terreiros das tias baianas, na região da Praça XI e nos subúrbios cariocas, que o samba moderno foi gestado. Foi na herança das umbigadas, no elegante sambar miudinho e nas rodas de jongo que as mulheres temperaram de brejeirice e sensualidade a performance do sambar. O coro das pastoras deu leveza ao samba lembrando o diálogo de cantos ancestrais africanos.

A partir deste ano, por lei instituída na Câmara dos Vereadores, o 13 de abril será o dia da mulher sambista. Data de nascimento de D. Ivone Lara.
​Quando penso em ícones mulheres sambistas, imediatamente me ocorre o nome da homenageada, comotambém o de Clementina de Jesus.  Uma pela extensão da obra e suas dezenas de parcerias (Silas de Oliveira, Hermínio Belo de Carvalho, Jorge Aragão…), e outra por encerrar em seu canto a memória da cultura afro-brasileira. Ambas merecem um texto exclusivo. Por agora, proponho um passeio sob ponto de vista da formação da samba como gênero musical. E basta apenas uma simples pincelada na história para atestarmos o quanto as mulheres sempre estiveram na vanguarda da batucada.

​Até os anos 60 do século passado, o cenário dos samba nas gravadoras era predominantemente masculino. Donga, Sinhô e Ismael Silva foram os “pais” dos primeiros sucessos gravados e difundidos pelo rádio. Até hoje ouvimos “Pelo Telefone” e “Se você jurar” como se mais de um século não tivesse passado para estas composições.

 

Nos anos 40, Orlando Silva, Francisco Alves e Mário Reis eram figuras carimbadas nas gravadoras. Entre maxixes, tangos, valsas e serestas gravar sambas e marchinhas era um quesito de repertório. Mas o discurso oficial deste sambista – carioca e malemolente – massificado na política da boa vizinhança entre os anos 30 e 40, não era exatamente livre de pesados preconceitos. Ser sambista não era destino de um homem-trabalhador.  Era coisa de negro boçal e avesso ao trabalho sério. Se o pesado racismo era um dos fardos do gênero, adicione então fortes porções de machismo.

​Na contramão da moral e dos bons costumes as mulheres foram conseguindo seu espaço. E sim, foi uma pequena notável que ajudou a consolidar o samba como “a” música do Brasil. Carmen Miranda, portuguesa de origem, com 1,54m de altura, levou nosso requebrado e balangandãs para o mundo transformando-se num mito internacional. Mas a figura distante e estereotipada que fez sucesso na América, inspirava mais adoração do que propriamente um futuro a ser almejado por uma garota. Além disso, Carmen, de pele clara e europeia, não era lá uma legítima representante da colina. A figura de Carmen Miranda, apesar de todo crédito a seu talento, virou um símbolo de latinidade confusa com uma salada de frutas na cabeça.

A primeira mulher a alcançar a fama nos rádios egravar discos com um largo repertório de sambas do morro (e do asfalto) foi Aracy de Almeida. Aracy, de voz anasalada e de afinação peculiar entrou para história como a “voz” de Noel Rosa nos anos 30. Dividiu com Carmen Miranda as composições de Assis Valente. Lançou sambistas do morro como Babaú da Mangueira. Conhecida como a “Dama do Encantado” – referência ao seu bairro de origem na zona norte do Rio –  tinha livre trânsito nos botequins, boates e cafés da moda no centro e zona sul. Foi uma mulher de personalidade forte, sem papas na língua e pioneira naquele universo masculino. Se Carmem Miranda era a “pequena notável”, Aracy era o “samba em pessoa” –  apelidada pelo jornalista César Ladeira, ainda na década de 30. Aracy nos legou um repertório riquíssimo em pérolas da música popular. Foi uma das grandes estrelas da rádio da nacional. Mas as novas gerações só lembram, quando lembram, daquela jurada mal humorada do Programa Silvio Santos.

Nos anos 60, jogo virou para as intérpretes. O samba já estava consolidado como nicho de mercado, sobretudo pelo sucesso internacional da bossa nova. Com a ascensão do golpe militar, havia uma discussão corrente sobre os valores nacionais: uma busca pela legitimidade que fez com que vários artistas abraçassem o samba como bandeira. O avesso às coisas do estrangeiro chegou ao ponto de reunir artistas em passeata contra a guitarra elétrica. Na época dos festivais e dos programas musicais na TV Tupi e na TV Record, Elizete Cardoso e Elis Regina cantavam bossa, samba de breque, sambas enredo e sambas canção, de sucessos consagrados a compositores ainda desconhecidos do grande público como Zé Keti (“A Voz do morro”/ “Diz que fui por aí”).

Mas a revolução das mulheres sambistas ainda estava por vir. Jogando pra escanteio as marchinhas para embalar blocos e cordões, comuns na Era de Ouro da Rádio Nacional, o pagode e o partido alto eram verdadeiras crônicas das mazelas e alegrias do povão, carregados de poesia, ritmo e tradição. Nos anos 70, Alcione, Beth Carvalho e Clara Nunes formaram o primeiro time de sambistas do mercado fonográfico: os críticos chamariam o fenômeno de ABC do samba.

​Alcione iniciou a carreira como crooner em boates nos anos 70. Dotada de uma voz grave e cheia de swing, a maranhense de São Luiz não demorou em conquistar o respeito do mundo samba com jeito muito peculiar de interpretar. Em 1975, estourou com seu primeiro disco “A voz do Samba”. No lado A, duas canções de Candeia “História de Pescador” e “Batuque Feiticeiro”. No lado B, a marselhesa do samba “Não deixe o samba morrer” de Edson Conceição e Aloísio Silva.

Clara Nunes, com disco homônimo de 1971, foi a primeira mulher a vender mais de 100 mil cópias, quebrando pecha de que mulheres não vendiam disco. A tal mineira, filha de Ogum com Iansã, candomblecistaassumida, tem sua imagem eternizada pelos paramentos brancos e sua tiara de flores. Morreu em 1983 e seu cortejo parou o Brasil. Portelense até a alma, foi tema da sua escola de samba este ano com o enredo “Na Madureira Moderníssima, hei sempre de ouvir cantar de uma Sabiá”.

Beth Carvalho veio dos festivais e da senda da bossa nova. Figura fácil no morro da Mangueira, incluiu compositores como Nelson Cavaquinho e Darcy da Mangueira em seus primeiros repertórios de samba. Ainda em 1966, participou do show “A Hora e vez do samba” com Nelson Cavaquinho e Noca da Portela. É considerada a “madrinha do pagode”, por relevar os partideiros do Fundo de Quintal, como Arlindo Cruz, Sombrinha e Almir Guineto, além de um tal de Zeca Pagodinho.

O impacto das mulheres no mundo do samba é imensurável levando em conta o quanto de preconceito que tiveram de combater. E ainda hoje o desafio solta os olhos. Quantos grupos de pagode femininos você conhece? E além do ABC do samba, quantas outras tiveram o mesmo alcance para além das capitais? E que não falta é mulher no samba. Que no dia 13 de abril saudemos Madrinha Eunice, Tia Eulália, Elza Soares, Cristina Buarque, Leci Brandão, Jovelina Pérola Negra assim como Teresa Cristina, Fabiana Cozza, Dorina e tantas outras que estão por aí pelas batucadas não deixando o samba morrer, nem deixando o samba acabar.

6 Comentários
  1. Claudio Henrique Diz

    E a Nilze Carvalho?? Mariene de Castro?? É muito talento!!!

  2. Umberto Mauro Diz

    Não deu pra botar/ lembrar de todo mundo. A lista é enorme. As mulheres arrebentam. Sugiro uma olhada na história de Madrinha Eunice, embaçada pelo nosso “riocentrismo”. Mais uma vez, obrigado pelo comentário.

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